sexta-feira, 30 de março de 2012

O PETROLEO EM CAMOCIM


Detalhe de vista aérea da costa camocinense. Foto: Camocimonline.
Voltou há algumas semanas atrás na mídia, a questão da exploração do petróleo na costa cearense. Efetivamente, nos anos 1980, Camocim foi alvo de pesquisa e o erário municipal embolsou alguns royalties na época. No entanto, nossa relação com o chamado "ouro negro", é muito mais antiga do que pensamos. Vai desde a inicativa de Pinto Martins, quando completa o voo New York-Rio de Janeiro. Nosso intrépido aviador ao morar nos Estados Unidos deve ter tido conhecimento da potencialidade da exploração do petróleo no Brasil. Tanto é, que comprou alguns estudos da viúva de um estudioso estrangeiro que morrera misteriosamente em Alagoas. Sintomaticamente, após o suposto suicídio e morte de Pinto Martins, os estudos desapareceram misteriosamente de seu apartamento no Rio. O escritor Monteiro Lobato (ele próprio, um estudioso e incentivador da exploração do petróleo no Brasil) eleva Pinto Martins à categoria de "mártir" na defesa do petróleo no Brasil. Tempos depois, na famosa campanha "O Petróleo é nosso", que levou os estudantes de todo o Brasil para as ruas, em Camocim, tivemos algumas manifestações a favor da mesma, como palestras na Sociedade Beneficente Ferroviária proferidas pelo nosso saudoso Artur Queirós, assim como uma proposição do vereador comunista Pedro Teixeira de Oliveira (Pedro Rufino) em criar na Câmara Municipal de Camocim uma "Comissão de Defesa de Petróleo".

Fonte: Câmara Municipal de Camocim. Livro de Atas. 16 de junho de 1948.

segunda-feira, 19 de março de 2012

CAMOCIM NO LIVRO DIDÁTICO

PORTO DE CAMOCIM. Fonte: História. Ceará. p.131.
Há algum tempo venho tentando sensibilizar as autoridades da educação de Camocim para a feitura de um livro didático para o município. Proposta neste sentido submeti à alguns secretários da pasta em tempos distintos, mas, não obtive resposta. Enquanto isso, municípios bem menores do que o nosso já avançaram nesta área, como é o caso de Cruz, onde nossa ex-aluna Gleiciane Freitas já conseguiu publicar a história daquele município. Alguém pode perguntar: o que precisa então pra fazê-lo? Respondo: vontade dos administradores e gestores. Lá em Cruz foi possível porque simplesmente o Secretário de Educação disse para a autora: Faça!
Acredito que um município sério começa por aí - contando sua história para suas crianças, adolescentes e adultos e, nada melhor do que pela escola, através dos livros e dos professores. Privar os estudantes dessa construção histórica do lugar onde nasceram e vivem é negar a própria cidadania, enfim, um crime, diria eu. O estudo sobre nossa terra não ultrapassa a Semana do Município, quando todo setembro chega, em trabalhos soltos, sem conexão, às vezes pura cópias das parcas fontes que temos. Antes desse blog, me informam alguns professores, a coisa era pior ainda, se restringindo a pesquisa ao velho e bom livro "Camocim Centenário" de Tobis Monteiro. 
Enquanto não fazemos isso, infelizmente outros fazem, às vezes deturpando a realidade em que vivemos. Num livro sobre História do Ceará, escrito pela autora Renata Paiva - bacharel e licenciada em História pela USP, Camocim é mostrada ainda como detentora de um porto (foto de 2004) que sugere ser um local de circulação de pessoas e cargas, dentro de uma seção que discorre sobre os meios de transporte, no Estado do Ceará. Enquanto isso, a autora ignora solenemente o fato da cidade ter sido servida por um século, por uma ferrovia, num item chamado "A História nos trilhos".
Como suspeito que minhas gestões neste sentido- produzir um livro didático para o município - são olvidadas puramente por um motivo mesquinho que me recuso a acreditar, conclamo que pelo menos, quando decidirem fazer, procurem os professores e historiadores do município para fazê-lo, pois os mesmos tem competência para isso, demonstradas quando nossos alunos, evidenciadas em suas pesquisas sobre o município.

Fonte: PAIVA, Renata. História. Ceará.4º ou 5º ano. São Paulo: Ática, 2008.

domingo, 18 de março de 2012

SITE DO PC do B DESTACA A "CIDADE VERMELHA" - CAMOCIM

O site do PCdoB (http://www.vermelho.org.br) dentro das comemorações dos 90 anos de militância comunista no país, destacou nosso trabalho de dissertação de mestrado concluído em 2000 e publicado pela Universidade Federal do Ceará em 2007. Ano passado, diante da edição esgotada, resolvemos publicar uma versão digital, que está hospedada no site da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Na matéria, você leitor tem acesso direto à essa versão. Confiram!



12 de Março de 2012 - 9h22

PCdoB: livro apresenta trajetória dos comunistas em Camocim


O livro "Camocim, Cidade Vermelha" já está na segunda edição e é resultado de uma dissertação de mestrado do professor Carlos Augusto Pereira dos Santos. A publicação é da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).


No ano em que o PCdoB comemora 90 anos de história marcada pela luta em defesa do povo brasileiro, surge no Ceará o resultado de um trabalho de pesquisa voltado à trajetória dos comunistas no Estado. Na publicação "Camocim, Cidade Vermelha - A militância comunista em Camocim (1927 / 1950)", o professor Carlos Augusto relata fatos e acontecimentos dos camaradas na região onde o Partido Comunista deu seus primeiros passos mais expressivos no Ceará.

“A significativa presença de categorias profissionais na cidade de Camocim, nas primeiras décadas do século XX, em torno da atividade porto-ferroviária (...) se destaca pelo nível de organização. É nesse contexto que pretendemos analisar a atuação da militância comunista nestes espaços de organização dos trabalhadores, onde ideias, digamos ‘revolucionárias’ encontravam eco”, afirma o professor Carlos Augusto. O trabalho reúne, em 126 páginas, fotos, depoimentos e vasta pesquisa sobre a memória comunista da região norte do Ceará.

Confira AQUI a versão digital do livro "Camocim, Cidade Vermelha"

De Fortaleza,
Carolina Campos
 

sábado, 17 de março de 2012

A CHEGADA DAS IRMÃS CAPUCHINHAS EM CAMOCIM

Fachada do Instituto São José. Fonte: camocimonline.
Próxima segunda-feira, 19 de março de 2012 completa 62 anos de atuação do Instituto São José em Camocim, marcados pela devoção ao ensino, primeiramente das jovens camocinenses no longínquo ano de 1950, depois, tornando-se um colégio para jovens de ambos os sexos. A postagem de hoje é no sentido de captar o momento da chegada das Irmãs Capuchinas no ano de 1954, que a partir daquela data assumiriam o educandário,segundo o Livro de Tombo da Paróquia de Bom Jesus dos Navegantes - 1931-1961, pág. 153v:

"A chegada das Irmãs Capuchinhas voando por um avião da Real, chegaram a esta cidade as Revmas. Irmãs Capuchinhas, no dia 23 de janeiro, as quais vieram dirigir o Patronato São José desta florescente cidade litoranea e que constituirá o maior anseio dos camocinenses.
Em numero de cinco, inclusive a Madre Josefa Maria de Aquiraz, Superiora Geral da Congregação das referidas irmãs, aquellas religiosas tanto chegaram a Camocim iniciaram as atividades de seu mister de tal modo que em março vindouro iniciar-se-ão as aulas do curso primário daquele novo educandário que tantos beneficios irá espalçhar por todo o Municipio e adjacencias.
Não só os camocinenses residentes em Fortaleza amigos de Camocim, digo como fortelezenses amigos de Camocim contribuíram com valiosos donativos cooperando assim para aquela obra de indiscutivel valor.
Pedimos ao bom Deus que abençoe as Revmas. Terceiras Capuchinhas na sua meritória obra".

Em tempo: O nome das irmãs desta primeira fraternidade eram: Irmãs Ermelinda Maria, Irmã Mariana Maria, Irmã Stella Maria, Irmã Antonina Maria, Irmã Filomena Maria, Irmã Silvana Maria e Irmã Matilde Maria.

Em tempo 2: Nos anos 1950 tínhamos voos regulares da Empresa Real.

Fonte: Para o nome das irmãs: http://isjpazebem.blogspot.com.br/2009/12/sintese-historica-do-instituto-sao-jose.html

terça-feira, 13 de março de 2012

O VEREADOR COMUNISTA EM CAMOCIM

Pedro Teixeira de Oliveira - Pedro Rufino. 

Desencadeado o processo político com relação à campanha política de 2012, a editoria do blog "Camocim Pote de Histórias" resolveu postar matérias referentes ao tema, ligadas à história do município; não no sentido de tomar partido para este ou aquele grupo, mas, para informar aos cidadãos camocinenses como se dava as relações neste campo da história local, quais os personagens e seus vínculos com o presente. Hoje retrataremos o Sr. Pedro Teixeira de Oliveira, mais conhecido na comunidade como Pedro Rufino. Pedro Rufino foi um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro - PCB em 1927 e vereador entre 1949 a 1952. Apesar de comunista, Pedro Rufino foi eleito pelo Partido Republicano - PR, que nas eleições municipais de 1948 foi uma sigla que abrigou os comunistas no Ceará. Essa fórmula acabou salvando o mandato do vereador em questão, visto que, no chamado período de redemocratização, pouco tempo depois o PCB foi posto na ilegalidade e os mandatos cassados. A atuação de Pedro Rufino na Câmara Municipal de Camocim foi marcado por posições firmes e muita polêmica, principalmente com edis ligados às famílias tradicionais da política camocinense. Dentre estes fatos, a constante ausência do vereador Alfredo Coelho foi sintomática, posto que o mesmo se recusou a exercer o mandato (pedia constantes licenças) só para não ter o desprazer de sentar no mesmo recinto que um comunista e tê-lo de chamar de colega. Pedro Rufino foi um autodidata. Colaborava com o jornal "O Democrata" de Fortaleza e fazia as vezes de rábula na justiça camocinense, defendendo principalmente trabalhadores pobres da periferia, requerendo habeas corpus. Sua atividade como vereador pode ser medida pelas atas das sessões preparatórias da Legislatura de 1949. Nelas, podemos encontrar o referido vereador sendo componente das Comissões de Legislação, Educação e Cultura, Comissão de Saúde Pública e Assistência Social e Comissão de Redação Final. Ressalte-se que essa participação só foi efetivada quando o mesmo denunciou sua exclusão das comissões da Câmara, argumentando a lei. da época.
Mais de 60 anos depois, a tradição militante dos comunistas em Camocim tentarão eleger um vereador pelas suas hostes no próximo pleito. Que, pelo menos, o exemplo de Pedro Rufino inspire-os nesta empreitada. 

Foto: Arquivo do blog.

segunda-feira, 5 de março de 2012

AS OFICINAS DE TRENS DE CAMOCIM

A Rua do Egito povoou minhas lembranças muito fortemente nos últimos dias, principalmente a memória das tardes nos campinhos de futebol e dos moleques mais corajosos que subiam as paredes da bocarra da velha cacimba e "pulavam de cabeça" na água do grande poço que enchia com os bons invernos. Por outro lado, as ruínas das "Oficinas" eram pra mim um grande monumento que desafiava minha imaginação de como aquilo teria sido em seu auge. Só muito depois, homem já feito e pesquisador da história da cidade, é que os testemunhos desta época me chegaram via lembrança da Rua do Egito, como assinala Avelar Santos em crônica esclarecedora daqueles tempos: a rua era habitada por “trabalhadores das Oficinas, gente do povo, pequenos comerciantes. Era uma rua tranqüila, mas efervescente (SANTOS, Avelar. Rua do Egito. In: O Literário. Ano VII, Edição 04, fevereiro de 2006. Camocim-CE, p.2.).

  1. Oficinas de Camocim. Observe-se ferroviários no pátio das oficinas da ferrovia quando as mesmas funcionavam a pleno vapor, hoje em ruínas. Foto de domínio público.
  Um outro estudioso, Pe. Luís Ximenes, em Paixão Ferroviária, rememora sua rua e seu fascínio pelos trens: “Menino da Rua do Egito em Camocim, filho de maquinista, morando à beira da linha, eu terminei ficando com o trem no sangue, como diz Rachel de Queiroz”. Este espaço foi o universo das brincadeiras infantis destes filhos de ferroviários e a falta do trem, tempos depois, parece ferir-lhes a alma. Pe. Luís Ximenes lamenta: A quadra das antigas oficinas de Camocim, cercada de uma muralha, transformou-se num verdadeiro Saara, e tudo sem o trem ficou mais deserto, sem um oásis, sem um pedaço de ferro, sem bigorna, sem uma única sombra de uma velha maria-fumaça. Anos atrás, ainda havia o consolo da presença de sucatas que eram vistas como relíquias pelos olhos dos saudosistas. Hoje, nem mais sucatas, e Camocim correndo atrás de um trem que anda fugindo dele, como Juca Mulato corria atrás de seu sonho de amor sem poder tocá-lo nunca. (XIMENES, Pe. Luís. Paixão Ferroviária. p.11-2). Fosse Camocim um município que cuidasse de sua história, algum projeto de recuperação, revitalização e um novo uso daquele espaço, já teria tido a atenção dos seus governantes. Enquanto isso, vamos vivendo de lembranças...




sexta-feira, 2 de março de 2012

O POTENCIAL CULTURAL DE CAMOCIM

Às vezes fico me perguntando que cidade do porte de Camocim tem tantos talentos na área da cultura. Onde encontrarmos músicos à altura de um Maestro Miguel e tantos outros do NAEC? Que cidade teria tantos literatos a ponto de termos uma academia de letras e grupos literários? E os pintores? Quantas teriam um um Totõe, Mauro Vianna, Eduardo, só para citar estes que estão em plena atividade? E a criatividade de um Paulo Açucar a construir narrativas de casamentos matutos? Onde encontrar um poeta como R. B. Sotero e um escritor como Inácio Santos ou Avelar? Essa é apenas uma pequena amostra do que temos em todas as áreas da cultura, que já redundaram em movimentos e produtos que aos poucos vão se perdendo, seja por falta de incentivo de uma política pública no setor ou do desinteresse dos artistas que acabam descobrindo que precisam sobreviver, e que viver da arte às vezes é utopia. Desta forma, as tradições culturais como a Dança do Coco, o Reisado, a marujada se foram com seus idealizadores... O Festival de Música entrou naquela lista (do já teve!), que a cada dia aumenta. Agora, recentemente no período momino, uma turma de nostálgicos procurou recuperar o carnaval de outrora reativando a festa de salão através do Bloco da Alegria. Ao invés de receber apoio oficial, eis o que me confidenciou um amigo folião do bloco: alguém ligado à organização do carnaval oficial teria sondado a banda  que iria abrilhantar seu baile principal com uma proposta de cobrir o "cachê" da mesma, só para que não acontecesse tal festa. A sordidez do ato só não foi maior porque ainda existem pessoas de palavra neste mundo...